segunda-feira, 16 de junho de 2014

II Gerês GranFondo - Cycling Road: "Quel bonheur"!

O fim-de-semana em que uma autêntica onda de calor invadiu o território nacional pela 1ª vez esta época, coincidiu com a realização da edição deste ano do Gerês Granfondo!

Que dizer do Parque Nacional da Peneda-Gerês, e que dizer da Vila do Gerês?? BEAUTIFUL é dizer pouco! LINDO não basta, mágico ajuda a perceber a sensação... Mas o melhor dos melhores adjectivos não chega para descrever a beleza do lugar, as inúmeras fontes, regos de água e minúsculas cascatas que correm em qualquer canto, o som da água a cair, a frescura da vegetação, e os cenários dignos de postais ilustrados que nós, ciclistas, tivemos o privilégio de observar de cima da bicicleta!

O prazer de observar a paisagem enquanto pedalo ninguém me tira... porque eu não deixo! Isso nenhuma competição irá retirar-me, nenhuma pessoa irá dissuadir-me, e nenhuma fixação por performances desportivas irá toldar-me a visão!

Subida à Pedra Bela

Dito isto, fui para o Gerês para desfrutar, e bem, de um belo fim-de-semana fora, num cenário idílico, rodeada de amigos que tenho a sorte de ter acumulado ao longo de alguns anos nestas andanças das bicicletas! Para onde me viro, tenho um amigo que se interessa e conversa e deseja sorte. Há alguma coisa mais gratificante do que isso??

A prova é um pretexto para jantarmos numa esplanada no meio da rua, enquanto comemos a bela da posta geresiana, que tão bem me encheu os músculos de proteína para o dia seguinte!


Na prova vieram participar nomes bem sonantes do ciclismo nacional e internacional, actuais e anteriores. "Don" Miguel Indurain, portador do Dorsal nº 1 é o nome mais badalado, e aquele com que todos querem tirar uma fotografia. Mas também Vitor Gamito, que este ano regressa às estradas da Volta a Portugal, Venceslau Fernandes (aka "velho" Lau), Rui Lavarinhas e tantos outros...

"Miguellón" a vestir a camisola do Gerês Granfondo, ao lado de Venceslau Fernandes

Parto muito bem acompanhada, e começo a sentir a força comigo enquanto carrego nos crenques. O jersey do Campeão do Mundo está ao meu lado, e o Xmile tenho-o no equipamento e nos lábios, sempre!

A bicicleta leva-me onde eu quero, e o que eu quero é sentir o vento na cara, a emoção no coração, e a força nos pedais. A "voar sobre os centrais" entro na 1ª subida a sério, de 10kms de extensão, e a "talega" não me deixa ficar mal. Ela carrega-me até ao alto, à Porta do Mezio, onde estava localizado o 1º abastecimento.

Um abastecimento onde não faltava nada!

Daí é sempre a descer, a velocidade alucinante, em piso bom, e numa paisagem deslumbrante.

Depois da descida vêm as subidas, e conta-se entre elas uma subida inclinadíssima, em piso de parelelos muitíssimo irregulares, toscos diria eu, em que é preciso engrenar as mudanças todas para a bicicleta andar.

A dada altura entramos em Espanha, e temos elementos da Guardia Civil em vez da GNR a indicar o percurso. Passamos em Lobios, e vamos em direcção à fronteira novamente. Sigo em grupos variados, raramente sózinha, e vou avançando de grupo em grupo, porque alguns grupos estão muito lentos para a minha vontade de pedalar! :-)

Não guardo na memória muitas mais subidas, tirando as duas subidas míticas do dia: a subida até à Portela do Homem, e a subida à Pedra Bela. Para a Portela do Homem são cerca de 13kms maioritariamente em subida. Imensas fontes pelo caminho, numa estrada de montanha lindíssima, curva e contra-curva e os ciclistas a aparecer e a desaparecer em cada uma. No alto, quase a cruzar a antiga fronteira, está o 3º posto de abastecimento, em que muita gente se detém imenso tempo, eu incluída. Muita necessidade de líquidos e sais, devido ao calor que se faz sentir. São cerca das 14h em Espanha, 13h em Portugal...

O "meu" jersey arco-íris está à minha espera e cruzamos juntos a fronteira. Entramos em Portugal e o estado da estrada diz tudo! Thumbs down.. Mas é linda, parece um túnel fresquíssimo por entre o arvoredo! Vale a pena, mas agora as pernas não querem saber disso.

Cruzamos a Portela de Lorne e então sim, é sempre a descer em piso magnífico mas onde toda a atenção é pouca, perante os cotovelos da estrada. Benditos travões novos montados na véspera! Yuppy!! A atenção redobrada não retira que me maravilhe perante a paisagem, onde já se começa a ver a albufeira da barragem. Simplesmente de cortar a respiração!

Resta a subida ao miradouro da Pedra Bela e depois a descida para a meta... É atroz a subida! Primeiro porque temos demasiados kms nas pernas, e com demasiado calor; 2º porque são os declives maiores, conforme as indicações colocadas pela organização, com indicação da extensão dos troços e inclinação média. São cerca de 4kms até ao topo, e há demasiadas inclinações de 10%, 7%, 9%, 6% para o meu gosto, mas agora já quase nem me lembro! ;-)

A bicicleta não quer andar nem na mudança mais leve, procuro forças que nem sei que tenho, agarro-me aos manípulos, carrego nos crenques, e ainda consigo sorrir!


Resta a descida, que se revela ser um enorme massacre: piso muito mau, ainda me sinto a chocalhar! Ganhei umas bolhas nas mãos mesmo com luvas, e suspirei de alívio quando entrei de novo na estrada principal que conduz à Vila do Gerês!

O meu GPS marca 6h20 de tempo decorrido, 160kms e 3000mts de subida acumulada. Mas o que ele não marca são as sensações que vivi, o suor que escorreu pelo meu rosto, o sal que está agarrado às fitas do capacete...

Levo para casa um enorme e bonito troféu, mas também levo o registo não do GPS, mas sim do meu personal log book, e o que aqui escrevo no blog, se bem que o que escrevo fica aquém dos 2 dias de felicidade que vivi, e que são pessoais e intransmissíveis.

Obrigada à organização do Gerês GranFondo e ao experiente Manuel Zeferino, por uma prova irrepreensível, dentro da minha modesta opinião.

E agora... recuperar porque Sábado há mais! ;-)

3 comentários:

  1. Uiiii um mar de sensações!!!!!!!
    XMile, XMile !!!!!!!
    Beijinho e força nos "crenques" da vida.

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  2. Magnifica reportagem:) Adorei! Confesso que nas descidas nem desfrutava da paisagem tal era o meu receio :) Foi a minha primeira prova com tal grau de dificuldade e no inicio tremia de ansiedade pelo desconhecido....no final, a sensação de superação dos limites, que por vezes a nós próprios colocamos, é de facto muito íntima e individual. O facto de estarmos rodeados de pessoas que conhecemos e gostamos da-nos alento e atenuam os longos km que por vezes são bastante solitários mesmo acompanhados.
    Tens o dom da escrita Mena, aproveitado e presenteia-nos com as tuas reportagens,pelo teu olhar e anos de experiencia.
    Obrigada! Beijinhos;)

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    1. Obrigada Sílvia! Parabéns a ti! Uma distância daquelas, nas condições que se faziam sentir, e com aquele acumulado de subida, não é mesmo para qualquer um, é para quem PODE, SABE E QUER! E tu quiseste! :-) Beijo

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