quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

ESTRADA NACIONAL 2 - Portugal na Vertical


#festive738 - PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL

Estado de Emergência versão 1 ponto qualquer coisa (já perdi a conta)...

5 dias de férias por gozar...

Altura "morta" entre Natal e Ano Novo...

O habitual desafio do Strava #festive500, que eu ia converter em #festive738...

Amigos comprometidos, sem férias ou sem vontade/coragem (medo do frio, das medidas, da polícia ou da própria sombra :-P)

Ai é?? Então vou sozinha!

Dia 26 de Dezembro viajei de autocarro para Chaves, e dia 27, cerca das 08h30, começou o meu périplo por este rectângulo plantado à beira do Atlântico chamado Portugal.

Fui sozinha mas não ia iniciar sozinha: o meu amigo Paulo Soares (a quem carinhosamente chamo Paulinho), residente em Tabuaço, próximo da Régua, foi propositadamente ao meu encontro a Chaves, naquela manhã gélida e enevoada, do dia 27.

Etapa 1: Chaves - Castro d'Aire (146.7kms, 2370D+)



Manhã gélida mas ainda não sabíamos o quão gélida até termos começado a pedalar, e a temperatura sempre a baixar: de Chaves a Pedras Salgadas foi 1h30 sempre abaixo de 0, com temperaturas que oscilaram entre os -5 e os -4, -3, -2... Só após P. Salgadas é que se aproximaram do 0 e foram ficando nos 2 ou 3 graus positivos. 

Algures após P. Salgadas (onde coloquei o 1º carimbo no Passaporte da N2), no caminho da Vila Real, juntaram-se a nós mais 3 companheiros, amigos comuns, que vieram ao nosso encontro e depois continuaram connosco até à Régua: o Hugo, o Paulo Proença e o Pedro Marta. Que frio também apanharam, só para me animarem e acompanharem nessa 1ª manhã fria. Parámos em V. Real para aquecer as mãos e beber um café, já merecíamos!


Sendo todos eles residentes na zona da Régua e Armamar, até à Régua, onde chegámos cerca das 13h com 88kms, seguimos todos juntos e depois eu continuei a minha jornada sozinha.





Da Régua para Lamego seria sempre a subir, mas era uma subida que eu já conhecia bem, da 1ª edição do Triatlo Longo do Douro, e daquelas que eu gosto, constantes e não muito inclinadas.


O pior viria depois: no total, foram 30kms a subir desde a Régua até ao Alto de Bigorne! Há a marreta, e depois há a BIGORNA! Palavras para quê??

Na subida para Bigorne começou a levantar-se um vento forte, que claro, fazia adivinhar chuva...

Passo o alto e fica um nevoeiro que dificilmente se via um palmo, e chuva miudinha mas constante à mistura com o vento, até a descer não estava fácil. Até Castro d'Aire foi sempre a descer mas molhou bastante, pelo que cheguei gelada, eram 16h.

Supostamente a minha residencial era em C. Aire, toda molhada retirei a folha onde tinha o apontamento (mal conseguia mexer os dedos e o papel não tardaria a ficar ensopado) e dizia que era ao km 143.5. eu tinha 136 naquele ponto, mas nós ciclistas sabemos que por vezes as quilometragens são meramente indicativas e falham, por isso entrei na localidade e comecei a perguntar: Toda a gente conhecia a residencial e deram indicações, mas não me deram a ideia de ser tão longe, e como tinha que memorizar várias indicações, a meio já não sabia todas e perguntava de novo. Mas para mim eu já tinha chegado.. Quando afinal, das 16h passei mais quase1h nestas "démarches", e cheguei gelada ao alojamento às 16h50!

Mas estou contente! Tive companhia desde o km 0 ao 88, enfrentei sozinha a "Bigorna", ainda vi o sol e senti um calorzinho na subida até Lamego, e cheguei bem à residencial onde a sra. foi de uma simpatia fora do vulgar e até me emprestou um casaco enquanto lá jantava porque eu não conseguia aquecer. Na manhã seguinte, registámos o momento, que fica para a história:

Que dia emocionante!!

Adoro isto!


Etapa 2: Castro d'Aire - Góis (130kms, 1745D+)

A noite passada foi mal passada, dormi mal porque não só estava cansada demais (e quando assim é descanso mal), como toda a noite ouvi a tempestade lá fora e fiquei toda a noite preocupada com o dia de hoje.

Mas amanhece e não é que o dia estava bom? Temperaturas entre 3 e 7/8º, muito melhor que ontem. Claro que caíram aguaceiros o dia todo, mas eram aguaceiros q iam e vinham, depressa concluí q andar a pôr e a tirar o Goretex era tempo perdido para cada aguaceiro, pois ficava logo cheia de calor. Por isso optei por já não o vestir, tendo o colete que lá ia protegendo alguma coisa mas ao menos não me abafava!


Desfrutei o dia todo sozinha, hoje bem melhor do ponto vista de altimetria. O que não gostei nada e me desiludiu bastante nesta Rota, é a falta de sinalização e indicações! O tempo que se perde a tentar perceber onde é a N2, quando se entra por exemplo, numa cidade como Viseu! Perguntar, perguntar, perguntar, mas muito tempo perdido para confirmar tudo...

Uma das zonas piores foi na barragem da Aguieira, com obras adjacentes à AE, inclusive tive de mandar parar carros, pois às tantas é um desnorte completo! O IP3 também foi uma confusão, e embora tenha GPS (não tinha os tracks e nem pensei que fossem necessários, com uma estrada como a N2!), mas quando se entra numa povoação grande o GPS  mostra os nomes de todas as ruas, praças e travessas, quando o que pretendemos é seguir a Nacional... Para achar o rumo certo para Sta. Comba Dão e Penacova, com o IP3 por todo o lado, foi quase uma lotaria!!



Mas quem tem boca vai a Roma! Neste caso, a Penacova! ;-)

Daí a Vila Nova de Poiares já foi bem mais linear, foi a parte mais difícil de toda a N2 em termos de sinalização, desde a aproximação a Viseu e até Penacova.



Há gente boa em todo o lado, e isso é tão fácil de constatar numa viagem como esta: parei num café em V. N. Poiares, toda molhada (aquele aguaceiro foi chato) e há um senhor. com farda dos CTT que não só me deu a boa notícia que só faltavam 21kms e uma série de indicações essenciais, como ainda me pagou o café, e disse para aparecer no Motoclube de Góis, ao qual pertence, se precisasse de alguma coisa!

Fiquei satisfeita e sigo para Góis, e como chego cedo, por volta das 15h30, dei-me ao luxo de estar uns 15min na conversa (+15min ao telefone com o trabalho) com o sr. do Posto Turismo de Góis, onde fui carimbar o passaporte, e que deixou a vida que tinha na Amadora para vir para cá com a família. Como eu o compreendo! O Sr. Jorge Lucas é agora meu amigo no Facebook e deu-me umas indicações preciosas para o km300 no dia seguinte. 



Depois do banho quentinho, saí para lanchar e quando voltei à residencial, antes de ir jantar, tinha lá um presente do senhor que me pagou o café em V.N. Poiares! Ele sabia que eu vinha ficar aqui, e como membro do Motoclube veio cá deixar-me isto num saquinho: 

Estas coisas só confirmam a ideia que tenho de que as pessoas são boas por natureza, a maldade é uma minoria muito diminuta, que as pessoas acham que é muito mais porque vêem demasiada televisão!



Etapa 3: Góis - Ponte de Sôr (150kms, 2190D+)

Saí a chover, cerca das 8h, consegui assim sair mais cedo porque tinha pastelarias abertas em Góis quase desde a madrugada, e sendo a etapa bastante longa, aquela meia horinha seria importante.

A etapa foi espectacular, uma variedade que só mesmo o nosso país nos pode proporcionar: desde as montanhas da zona da Lousã e Açor, localizando-se Góis nesse enclave, até aos pinhais e ao xisto da zona que me fez sentir em casa (raízes familiares), da Sertã, Vila de Rei, Sardoal e Abrantes, tudo é surpreendentemente variado em tão curta distância.

Todo o dia caíram uns aguaceiros que milagrosamente (ou não..) só foram mais intensos exactamente nas alturas em que eu estava parada para abastecer ou carimbar o passaporte da N2. Tenho para mim que o JC ( =Jesus Cristo) era ciclista! Ou se quisermos, a Sorte protege os Audazes! 

Numa dessas paragens, no km300 onde tirei a foto no marco, fui aos bombeiros carimbar. Deixei lá a Bike e andei uns 100mts para ir tomar um café. Todo esse tempo não só foi o bastante para chover e deixar de chover, como a bombeira de serviço (em Alvares) pôs as minhas luvas geladas e molhadas em cima do radiador. Quando voltei, a sensação de calor nas mãos aqueceu-me também o coração! Mais uma demonstração de ajuda sem eu ter pedido nada!

Passado pouco tempo veio um dia de sol, e quando cheguei a Vila de Rei dei a mim própria o prémio de ficar a "almoçar" quase 45min no posto de combustível, tendo comprado o almoço no mini-mercado do lado. Mais uma vez, cai um grande aguaceiro, e eu ali descansadinha, à conversa com o sr. do posto, que carimbou o passaporte e só dizia que eu era corajosa e que agora era um "tirinho" até Ponte de Sôr (not!!)



Para terminar, dá para acreditar que ao passar na localidade de Bemposta, já a 20kms do meu destino, está numa esquina um comité de recepção, de uns companheiros que também já fizeram a N2 e souberam pelo grupo Fuga Rosa que eu ia lá passar?? Claro que tive de parar e dar 2 dedos de conversa e uma foto!

Que viagem! É tudo isto que faz desta aventura algo de inesquecível, juntamente com as dificuldades diárias!

Cheguei a P. Sôr eram 16h35, e fui instalar-me no magnífico Hotel de Ponte de Sôr! Que bem que me soube!


Etapa 4: Ponte de Sôr - Ferreira do Alentejo (160kms, 1585D+)

E para sair do hotel de manhã com um pequeno-almoço deste calibre?? 



Fiquei lá quase 1h a atestar o depósito, por isso não consegui sair antes das 8h30, e ainda fiz farnel para a etapa! ;-)


Estou eu mais ou menos ao km30, pouco depois de Montargil, sempre debaixo de um nevoeiro intenso, muito frio naquela zona tão baixa toda ela adjacente à barragem, e vejo uns ciclistas num café no lado oposto da estrada, levanto a mão e cumprimento, como é apanágio dos ciclistas. Logo a seguir, na berma, um motard parado ao sol, de pé, que me pareceu ter balbuciado qualquer coisa mas não consegui perceber. Segui mas ainda olhei para trás, meio desconfiada...

Passado um bocado, o motard põe-se ao meu lado, eu olho e ele diz-me: "nem falas às pessoas que vêm de propósito para te ver!" Fiquei perplexa!!! Era o meu amigo, "vizinho" e parceiro de piscina João Cordeiro!! Veio de propósito da Moita só para me ver, parámos fora da estrada e estivemos quase meia hora à conversa ao sol. 

Foi muito bom, e é claro que achei logo o destinatário perfeito para o Buff do Motoclube de Góis que carregava comigo!! Era o mínimo que podia oferecer a quem se levantou tão cedo e passou tanto ou mais frio que eu, só para ali estar e conversar um bocado comigo. Bem hajas João!

Segui viagem, e por volta das 11h30 cheguei ao km500 da N2, onde bebi um chá oferecido pelo sr. António que se pôs no meio da estrada para me indicar onde era o marco e insistia em me pagar qualquer coisa. A etiqueta do chá dizia "Make today Amazing"... Palavras para quê??


Importa dizer que a partir de Góis para baixo começou a haver mais indicações, e nomeadamente desde a Sertã, Abrantes, e por aí fora, era muito mais simples achar o caminho.

"Almocei" em Montemor-o-Novo, a sanduíche que trouxe do hotel, estava um dia ensolarado tão bom que cheguei a ter calor! Cheguei a Ferreira do Alentejo às 16h50, foi sempre a abrir desde a zona do Escoural, sempre com uma suave aragem pelas costas e na típica orografia alentejana que ajudou a tamanha quilometragem. 


Fiquei, graças à Try Portugal, (actual sponsor da minha equipa de Triatlo Vitória de Janes) que tratou de todos os meus alojamentos), instalada num alojamento local com uma espécie de kitchenette alentejana 😀. Assim, fui ao supermercado e trouxe jantar, pequeno-almoço e snacks para o dia seguinte! E para não acordar de noite com fome (já tinha acontecido!!), marchou um frango assado quase inteiro!! 😋😋😋

Amanhã é a recta final!


Etapa 5: F. Alentejo - Faro (143kms, 1645D+)

E eis-nos chegados a 31 de Dezembro do ano da (des)graça de 2020, último dia do ano e último dia da minha aventura a solo no Portugal profundo. 


Este ano atípico terminou, para mim, a pedalar, numa viagem a atravessar Portugal, a contactar com as suas gentes, a dar um pequeno contributo às economias locais, a cheirar os odores das terras molhadas, dos fumeiros, das chaminés, das comidas...

Nunca me arrependi de ter feito esta viagem no Inverno, mesmo a chegar todos os dias de pés gelados e molhados, e nunca me arrependi de tê-la feito a solo, mesmo tendo sido valiosíssimo o tempo e sacrifício pessoal de alguns amigos que se quiseram juntar em metade da 1a etapa.

Lembrei - me muitas vezes de uma expressão do meu amigo Mário Fonseca aka Super-Mário, num artigo que em tempos escreveu relativo aos medos de cada um, e ainda mais aos medos dos outros: o medo é típico do ser humano, e eu também os tenho. Mas mesmo com esse medo, eu vou na mesma!! Mas pior são os medos dos outros relativamente ao que te propões fazer: é perigoso! É difícil! É duro! E se acontece alguma coisa?? E se, e se, e se.. Então e se não acontece nada??? Então e se tudo corre bem?? E correu!!! 

Constatei in loco o quanto o ser humano tem bom fundo. Não são só os Portugueses, são as pessoas em geral, mas que sofrem um processo de aculturação consoante o ambiente em que crescem e vivem, e isso faz com que os povos latinos sejam assim, calorosos e amáveis. Desde as gentes da Patagónia chilena e argentina, até aos nossos irmãos brasileiros e espanhóis, a todos reconheço a mesma vontade de ajudar o próximo, mesmo que por vezes a nossa gente possa ser um pouco mais "desconfiada", deixam cair o véu quando olham nos olhos de uma mulher a pedalar sozinha e nem vacilam em querer ajudar!


Neste ano de 2020 que não foi feliz para ninguém, houve gente muito mais infeliz que eu, com muito mais razões para se queixar, com infelicidades muito grandes, dificuldades ainda maiores, que reconheço e lamento profundamente... Portanto, que moral tenho eu para dizer que foi um ano mau? Tenho saúde, trabalho, família, amigos, vontade de fazer coisas, mesmo que não haja "coisas".. As que houve aproveitei quase todas (inclusive os reptos lançados pelo meu grupo de treino da
Ontrisports), e não as havendo inventei-as eu! Everestings, de bike ou a pé, jornadas épicas, viagens de Bike..

Se a vida te dá limões, faz limonada.. E eu fartei - me de beber limonada este ano!

Tudo isto para dizer que, a nível meramente pessoal, o que não foi feito em 2020, sê-lo-á em 2021.

Quanto a esta viagem na Rota da Nacional 2, recomendo a qualquer pessoa! É única e a melhor maneira de conhecer a génese da nossa pátria, essa palavra que caiu em desuso ou é (mal) interpretada ou subvertida nos dias que correm. Um enorme bem haja à TRY Portugal, por ter sido o meu ponto de contacto nos alojamentos locais!

Verdadeiro fim da Estrada Nacional 2, km 738.5


Tenham um excelente 2021!! Vamo-nos vendo por aí, numa estrada ou num trilho perto de si! 

P.S. O meu "réveillon" foi passado a descansar, comodamente instalada no hotel, mas não deixei de me oferecer a mim própria o jantar de fim de ano que tanto fiz por merecer :-)

São servidos??


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

EVERESTING RUN: INDOOR STAIRS CLIMBING - Everesting em Escadaria Interior

Em tempos de pandemia e com poucas provas no calendário nacional em 2020, a realização de certos desafios pessoais preencheu o vazio deixado pela ausência das habituais competições.

Pessoalmente, resolvi estabelecer mais um objectivo, que foi fazer outro EVERESTING, desta vez na vertente de "RUN". Ou seja, subir o equivalente à altitude do Everest, 8.848 metros, a correr e/ou caminhar.

Para isso é de todo conveniente encontrar uma subida o mais curta possível e com a maior pendente possível. Para quê? Para que se leve o menos tempo possível a descer, e poder subir bastante em cada uma das ascensões, para que assim as horas decorridas sejam reduzidas ao mínimo (e que já serão imensas!), pois enquanto na bicicleta as descidas permitem descansar, na corrida não. Como já tomei a decisão de concretizar esta aventura em Setembro, quando os dias já são algo curtos, não estava fácil de achar uma subida compatível. Existem algumas mas as razoáveis para o objectivo em questão eram todas em Trail, com piso agreste, raízes, pedras, buracos, etc, inclinadas como se pretendia, mas que com as escassas horas de luz de meados de Setembro, a descida que teria de se fazer rápido para poupar tempo, e a fadiga acumulada que iria tornar a situação bastante arriscada e algo perigosa com probabilidades de queda, cedo percebi que o melhor caminho era fazer indoor, em escadas interiores.

Ora não conheço muitos prédios assim altos e onde me permitissem andar à vontade... pelo que me ocorreu concretizar isto no edifício onde trabalho! O edifício tem 12 andares e 4 adicionais subterrâneos, mas só 1 dos pisos subterrâneos era viável por ter escada directa com ligação aos outros, teria assim 13 pisos viáveis, com uma escadaria bastante larga e contínua.

Para aferir da viabilidade e calcular quantas vezes teria de subir, efectuei alguns testes nos dias anteriores: a 1ª coisa foi calibrar o barómetro do meu relógio multi-desporto (visto que o GPS não funciona indoor), através do qual iria registar a actividade e medir o acumulado total. Depois de calibrado, efectuei algumas subidas num passo muito calmo, e todas as vezes o relógio marcava um desnível acumulado entre 50 a 55 metros. Fiz as contas, multiplicado pelo número de andares e calculei quantas vezes teria de subir, sendo que os acertos iriam ditar o número final mas sempre a controlar no relógio. Fiz "lap" em cada uma das subidas. 

Um factor determinante que ainda ajudou mais à decisão, é que nas regras oficiais do Everesting vertente "Run" é permitido utilizar meios de auxílio na descida, seja descer de carro, de bicicleta, trotineta, elevador, etc. Isto não é batota! É permitido exactamente porque nunca se descansa a descer, ao contrário da bicicleta. Ora também não iria arranjar ninguém para fazer de meu motorista e estafeta durante horas e horas para me levar para baixo! 

Mais uma vez, a decisão de realizar o Everesting no meu edifício de trabalho, com elevador, estava mais que tomada!

Let's do this

No dia 12 de Setembro de 2020, pelas 5h30 da manhã, com a devida autorização da Direção Nacional, iniciei esta façanha a solo, num Sábado em que só o pessoal de serviço se encontrava no edifício. 

Levei os meus abastecimentos nuns baús de plástico, já tudo preparadinho, coloquei-os à porta do elevador e da escadaria do piso -1, e a ideia era cada vez que descia tomar alguma da bebida que constituía a minha alimentação líquida da Hammer Nutrition, complementado com uns goles de água com electrólitos, também da Hammer Nutrition. Nenhuma comida sólida, apenas alguns goles de Hammer Gel com cafeína, em complemento. De resto, paragens foram as estritamente necessárias para ir ao WC, tomar um café a meio do dia que um colega que me foi dar uma força me foi buscar (OBRIGADA!!), além de também ter recebido a visita do Presidente da nossa Associação Desportiva, com quem conversei um bocadinho. 

Tudo correu lindamente, o entusiasmo era muito e ele nunca esmoreceu ao longo do dia. Na verdade, o tempo passou bem mais depressa do que se possa imaginar, e eu própria não dei por ele. Sempre que descia, aproveitava os minutos no elevador para alongar, o que se revelou de extrema importância.

E assim passei o meu dia de forma invulgar, tendo subido os 13 pisos 171 vezes, 48.620 degraus no total, perfazendo uma distância de 30kms só de subidas, e um desnível positivo de 9.060mts, num tempo total decorrido (paragens incluídas) de 14h40


Terminei a minha façanha com a cereja no topo do bolo: o Heliporto que existe no topo do edifício:

Com uma vista brutal sobre a cidade e a minha Margem Sul, só foi pena já ser lusco fusco quando terminei, e entretanto escureceu, mas belo na mesma com a iluminação nocturna.

Embora tal desafio tenha sido meramente pessoal, o mesmo enquadra-se num âmbito em que, a nível mundial qualquer pessoa se pode propor cumprir semelhante objetivo, a pé ou de bicicleta, no tempo que entender, desde que seja de seguida, com as paragens apenas necessárias. Posteriormente a atividade, (registada em relógio multidesporto ou aparelho de GPS) é reconhecida e homologada por uma entidade com sede na Austrália, a Hells 500 ("keepers of the cloud"). Após validação e homologação, o registo desta Subida em escadaria foi devidamente homologado, e publicados os resultados num “Hall of Fame” internacional, que pode ser visto neste link:

https://everesting.cc/hall-of-fame/#/hill/4055098687

Não se tratando de nenhuma promessa, prova ou outro, e estando eu habituada a provas longas de resistência e endurance ("Ironman", provas de BTT por etapas, travessias em autonomia, corridas de aventura), pretendi apenas não só cumprir uma meta pessoal, como incentivar a prática de atividade física em tempos de restrição competitiva ou em que a frequência de ginásios se encontra condicionada ou até mesmo interdita.

Podem pensar que fiquei toda partida.. mas nem por isso! 

Para isto não conta tanto o treino cardio, de corrida ou de bike, mas sim a capacidade muscular, a força, aquilo que muita gente evita com a desculpa de que não tem tempo ou não gosta: treinar no ginásio a força e resistência é essencial para ter a capacidade muscular e mobilidade para durar assim sem exageradas dores musculares ou lesões. Devo isso ao meu PT!

Não há barreiras nem impossíveis, quando existe a determinação e a resiliência para nos auto-desafiarmos. 



“EVERESTING - FIENDISHLY SIMPLE, YET BRUTALLY HARD. EVERESTING IS THE MOST DIFFICULT CLIMBING CHALLENGE IN THE WORLD.”

Registo da actividade no Strava: https://www.strava.com/activities/4055098687