Em tempos de pandemia e com poucas provas no calendário nacional em 2020, a realização de certos desafios pessoais preencheu o vazio deixado pela ausência das habituais competições.
Pessoalmente, resolvi estabelecer mais um objectivo, que foi fazer outro EVERESTING, desta vez na vertente de "RUN". Ou seja, subir o equivalente à altitude do Everest, 8.848 metros, a correr e/ou caminhar.
Para isso é de todo conveniente encontrar uma subida o mais curta possível e com a maior pendente possível. Para quê? Para que se leve o menos tempo possível a descer, e poder subir bastante em cada uma das ascensões, para que assim as horas decorridas sejam reduzidas ao mínimo (e que já serão imensas!), pois enquanto na bicicleta as descidas permitem descansar, na corrida não. Como já tomei a decisão de concretizar esta aventura em Setembro, quando os dias já são algo curtos, não estava fácil de achar uma subida compatível. Existem algumas mas as razoáveis para o objectivo em questão eram todas em Trail, com piso agreste, raízes, pedras, buracos, etc, inclinadas como se pretendia, mas que com as escassas horas de luz de meados de Setembro, a descida que teria de se fazer rápido para poupar tempo, e a fadiga acumulada que iria tornar a situação bastante arriscada e algo perigosa com probabilidades de queda, cedo percebi que o melhor caminho era fazer indoor, em escadas interiores.
Ora não conheço muitos prédios assim altos e onde me permitissem andar à vontade... pelo que me ocorreu concretizar isto no edifício onde trabalho! O edifício tem 12 andares e 4 adicionais subterrâneos, mas só 1 dos pisos subterrâneos era viável por ter escada directa com ligação aos outros, teria assim 13 pisos viáveis, com uma escadaria bastante larga e contínua.
Para aferir da viabilidade e calcular quantas vezes teria de subir, efectuei alguns testes nos dias anteriores: a 1ª coisa foi calibrar o barómetro do meu relógio multi-desporto (visto que o GPS não funciona indoor), através do qual iria registar a actividade e medir o acumulado total. Depois de calibrado, efectuei algumas subidas num passo muito calmo, e todas as vezes o relógio marcava um desnível acumulado entre 50 a 55 metros. Fiz as contas, multiplicado pelo número de andares e calculei quantas vezes teria de subir, sendo que os acertos iriam ditar o número final mas sempre a controlar no relógio. Fiz "lap" em cada uma das subidas.
Let's do this!
Tudo correu lindamente, o entusiasmo era muito e ele nunca esmoreceu ao longo do dia. Na verdade, o tempo passou bem mais depressa do que se possa imaginar, e eu própria não dei por ele. Sempre que descia, aproveitava os minutos no elevador para alongar, o que se revelou de extrema importância.
E assim passei o meu dia de forma invulgar, tendo subido os 13 pisos 171 vezes, 48.620 degraus no total, perfazendo uma distância de 30kms só de subidas, e um desnível positivo de 9.060mts, num tempo total decorrido (paragens incluídas) de 14h40!
Terminei a minha façanha com a cereja no topo do bolo: o Heliporto que existe no topo do edifício:
Com uma vista brutal sobre a cidade e a minha Margem Sul, só foi pena já ser lusco fusco quando terminei, e entretanto escureceu, mas belo na mesma com a iluminação nocturna.
Embora tal desafio tenha sido meramente pessoal, o mesmo enquadra-se num âmbito em que, a nível mundial qualquer pessoa se pode propor cumprir semelhante objetivo, a pé ou de bicicleta, no tempo que entender, desde que seja de seguida, com as paragens apenas necessárias. Posteriormente a atividade, (registada em relógio multidesporto ou aparelho de GPS) é reconhecida e homologada por uma entidade com sede na Austrália, a Hells 500 ("keepers of the cloud"). Após validação e homologação, o registo desta Subida em escadaria foi devidamente homologado, e publicados os resultados num “Hall of Fame” internacional, que pode ser visto neste link:
https://everesting.cc/hall-of-fame/#/hill/4055098687
Não se tratando de nenhuma promessa, prova ou outro, e estando eu habituada a provas longas de resistência e endurance ("Ironman", provas de BTT por etapas, travessias em autonomia, corridas de aventura), pretendi apenas não só cumprir uma meta pessoal, como incentivar a prática de atividade física em tempos de restrição competitiva ou em que a frequência de ginásios se encontra condicionada ou até mesmo interdita.
Podem pensar que fiquei toda partida.. mas nem por isso!
Para isto não conta tanto o treino cardio, de corrida ou de bike, mas sim a capacidade muscular, a força, aquilo que muita gente evita com a desculpa de que não tem tempo ou não gosta: treinar no ginásio a força e resistência é essencial para ter a capacidade muscular e mobilidade para durar assim sem exageradas dores musculares ou lesões. Devo isso ao meu PT!
Não há barreiras nem impossíveis, quando existe a determinação e a resiliência para nos auto-desafiarmos.
Que proeza ! Parabéns.
ResponderEliminarCusta até imaginar: subir 171 vezes um edifício de 13 andares, durante mais de 14h, continuamente ...
Depois disto, custa ainda mais imaginar qual será o teu próximo desafio ;)
Deves ter iniciado (e inspirado) uma nova actividade desportiva; muita gente tem umas escadas à porta de casa e, portanto, não há desculpa para não fazer exercício, subindo pelo menos meia dúzia de vezes alguns andares do prédio :)
João
Obrigado João!
ResponderEliminarE sim, qq pessoa pode fazer muita coisa até mesmo só com o peso do próprio corpo, basta querer 🙂
Quanto ao próximo desafio... Pois já sabes qual foi, e o texto está prestes a sair 😊