quinta-feira, 23 de julho de 2020

UMA AVENTURA NA LOUSÃ

EVERESTING 10K



Às 4h da madrugada de Sábado, 11JUL20, iniciei a solo a 1ª de 10 subidas rumo ao Everesting 10k (10.000mts) que me propus realizar no segmento Lousã-Trevim, com uma extensão de 25kms (50kms contando com a descida) e cerca de 1000mts D+.

Trata-se de uma ascensão mágica se feita de madrugada. Era eu, a luz da minha lanterna e os animais selvagens que cruzaram o meu caminho: veados, corças, raposas, javalis. Cheguei ao topo do Trevim com o despontar do dia, e daí para a frente foi somar subidas e descidas sempre no mesmo segmento (uma das regras do Everesting).

No topo do Trevim, ao despontar do dia.


No final de cada descida, na base da Lousã, tinha o meu abastecimento montado no carro, com geleiras e bidons já preparados, era só trocar e voltar a subir. Uma logística que eu preparei e montei sozinha, o que exige tempo e conhecimento do que iria precisar e em que quantidades, para que tudo funcionasse o melhor possível. Impossíveis de programar ou abreviar foram as idas ao WC, que tinham de ser num café no parque Carlos Reis adjacente ao início da subida, e onde tinha o meu caro estacionado. Inclusive cheguei a mudar o carro de lugar no final da 1ª descida, para que ficasse à sombra da única árvore do estacionamento! Isto devido à necessidade de manter as geleiras o mais frescas possível num dia abrasador. E o relógio sempre a contar...



Durante o dia em que apanhei todo o tipo de condições (calor de 35 graus, chuva forte tropical, vento, relâmpagos e trovões), e apesar de ter sido uma aventura toda preparada a solo, tive a companhia pontual de alguns amigos, sendo que o último me deixou cerca das 18h30, estando eu com cerca de 250kms percorridos e 5000D+.

Com o meu amigo Nelson "Cordas" a chegar ao Trevim.
Nelson & Friends!

Amigos "OntriSports": Madalena Fontinhas e Hugo Gomes

Nessa altura já lavrava um incêndio numa encosta próxima do Trevim. Iniciei nova subida sozinha já com as luzes montadas e durante toda a ascensão não paravam de passar viaturas de Bombeiros, GNR, Protecção Civil, ambulâncias, etc. Adivinhava que o incêndio tivesse alastrado e suspeitei que não me permitiram passar. Assim foi: a cerca de 6kms do Trevim fui barrada pelas autoridades, já um bombeiro tinha falecido cercado pelo fogo. Desci já de noite, com todas as cautelas, cerca das 21h30, vento, relâmpagos e trovoada deixavam adivinhar uma tempestade nocturna sem paralelo.

O "grande" José Afonso, um Amigo com maiúscula, que fez metade do Everesting (Base Camp), foi e voltou de bike de e para Coimbra e ainda me foi deixar uma pizza no alojamento. Bem hajas!

Na minha mente tive de refazer o plano: um dos “badges” do Everesting (o chamado ROAM) permitia fazer os 10k em 2 etapas, desde que com uma extensão total superior a 400kms e no tempo máximo decorrido de 36h. Mudei o meu foco num ápice, tinha nessa altura 285kms e 6000mts D+: desistir nunca, vou fazer o ROAM. Às 06h da manhã de Domingo 12JUL20, iniciei a 7ª subida.



A meio da descida, próximo da aldeia do Candal, a roda de trás prega-me uma partida, derrapa, e eu adivinho que vou cair. Deixo-me ir propositadamente para a valeta para não ser vítima do alcatrão. A queda poderia ter sido grave, mas acabou sem consequências impeditivas senão um golpe profundíssimo no antebraço esquerdo, que sangrava abundantemente mas não era impeditivo, ou pelo menos a adrenalina e a minha vontade não me impediam de continuar. Tinha manguitos ainda vestidos nessa 1ª descida da manhã, e foi o que me valeu para evitar que qualquer tipo de lixo entrasse para dentro da ferida. Parei na fonte da aldeia do Candal para lavar bem com água fresca. Quando tirei o manguito vi a dimensão do golpe, era bastante impressionante, e muitos teriam desmaiado certamente... Meti o manguito outra vez e nunca mais o tirei até ao fim, para evitar poeiras e o sol. Felizmente nunca doeu..ou eu já estou imune à dor! ;-)



Fiz mais 3 subidas, no total de 4 naquele dia, com 4000mts, mais 225kms, e terminei o meu ROAM em 35h20 decorridas, com um total de 510kms, 10.115mts D+ e uma interrupção forçada entre as 22h30 e as 6h de Domingo.

À 10ª subida, no topo do Trevim! 10.000mts de desnível positivo acumulado!



Posso dizer que foi a coisa mais dura que fiz até hoje, pois fui eu e a minha determinação. Também a preparação que fiz, pois ciente de todas as regras e variantes do Everesting, pude dar a volta à situação e mudar de categoria quando deixei de poder fazer o 10k "normal". Só isso me permitiu levar por diante esta verdadeira Aventura, que me preencheu muito mais do que certas provas. O desafio de descobrirmos do que somos capazes, temperado por uma dose de risco calculado, é o que torna a vida interessante, em qualquer área. 




A minha nutrição para esta aventura foi “simplesmente”: 22 bidons de líquidos, sendo metade deles a “comida líquida” da Hammer Nutrition, o “PERPETUEM”, e o resto dos bidons água simples. A cada hora ingeria: 1 cápsula de electrólitos “Endurolyte Extreme” + 1 cápsula de BCAAs + 1 cápsula “Anti-Fatigue”, tudo da Hammer Nutrition. Também tomei 8 géis no total, a partir da 2ª metade do dia, sendo 4 com cafeína e 4 sem cafeína.
[Se quiserem saber mais sobre a Hammer Nutrition, entrem em contacto, posso explicar tudo.]  

"Comida" Hammer!

“It always seems impossible until it’s done” (Nelson Mandela)