Pedalo por distracção, por diversão, para desfrutar da Natureza, para apreciar a paisagem, para ouvir o canto dos pássaros, e assim reencontrar a alegria de viver, a saúde da alma e do corpo. Esta é a essência e a autenticidade por detrás do simples acto de andar de bicicleta! Não se trata de envergar equipamento vistoso e performante, tentando incorporar figuras como Contador, ou o nosso Rui Costa. Não; porque isto é pessoal, cada um pedala à sua maneira, surpreendendo-se a cada dia neste mundo fascinante que se vai tornando maior a cada dia que passa... Há tantos trilhos por percorrer, tantos Caminhos por conhecer!
Cada um pedala no seu mundo de sonhos, de esperanças, motor de sensações físicas e emocionais, veículo de sensações de liberdade, de prazer, anti-depressivo por excelência e nivelador da ansiedade. É uma terapia, que pode ser de grupo ou individual, permanecendo todavia algo de pessoal. Mas não tem que ser solitário.
Pedalo por gosto e ao sabor do que me apetece. O meu bem-estar não se compadece do turismo compreendido da forma cómoda e comodista como a maioria dos mortais o concebe. Nem tão pouco procuro realizar marcas pessoais ou tempos dignos de nota, corridas contra o tempo ou contra o relógio. O meu relógio detém-se quando bem quero e sempre que o considero necessário, para observar a paisagem e desfrutá-la a meu belo prazer, sem pressas, sem público ou espectadores, mas com os amigos verdadeiros por companhia. Até o ritual repetitivo de puxar por uma barra energética e mastigá-la diante de uma bela paisagem, é inigualavelmente mais satisfatório do que ir ao melhor restaurante que conheço!
Pedalar verdadeiramente não exige velocidades, nem prémios, pois o prémio está em cada pedalada e em cada obstáculo superado. Não interessa quantos quilómetros se percorre, nem em quanto tempo, mas sim como se percorrem e por onde.
O melhor e o mais aliciante são os imprevistos, os elementos da Natureza a fazerem surpresa e a mostrar quem põe as cartas na mesa! Uma chuvada repentina traz consigo a força de carácter e a coragem para continuar; um calor abrasador exige de nós perseverança e espírito de sacrifício. Pedalar à chuva e ao vento, ao sol e pela noite dentro, fortalece e endurece, mostra o verdadeiro trilho a seguir e metas mais altas a atingir.
Pedalar, na verdade, começa muito antes da primeira pedalada. Começa com a preparação dos itinerários, com o estudo dos mapas e altimetrias, com a troca de impressões, com a reunião de informação, estudo dos locais, onde e como dormir ou comer, preparação da bicicleta e treino específico.
Pedalar é mais do que uma actividade física. É uma certa filosofia de vida e força anímica. No fundo, é uma comunhão entre o homem e a máquina. Equivale a liberdade e independência, auto-suficiência. Pedalar ajuda-nos a redescobrir sensações há muito adormecidas dentro de nós. É uma fonte inesgotável de sensações diversas, para todas as idades e todos os gostos.
Não há metas nem limites, apenas estímulos sãos, em harmonia com as capacidades de cada um. A bicicleta é importante, mas muito mais importante é quem a conduz, o que move o ciclista. O que me move?
Move-me a vontade de não estar parada à espera de qualquer coisa. Move-me o ânimo de saber que todas estas sensações já ninguém mas poderá tirar...