E tudo a chuva levou! Mas ninguém arredou!
06h30 da manhã na Terrugem de Sintra, uma neblina e uma humidade que não deixavam margem para dúvidas: ia ser uma manhã molhada...
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Fotos: BTT Terrugem |
Sacos do banho e roupa colocados na carrinha de apoio, bem como o nosso abastecimento pessoal, caso o preferíssemos, spray
Star Balm para aquecer joelhos e pernas, e ainda esfregávamos os olhos quando arrancámos às 07h15 para uma viagem que iria atravessar Portugal na horizontal, desde Sintra até Elvas, mais propriamente desde a Terrugem até à Terrugem!
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BTT-Terrugem aconselhou os participantes (cerca de 40) a não exceder o nº de 10 em cada grupo, para não estarmos em incumprimento para com o novo código da estrada. Pela nossa parte, TRÊS foi a conta que Deus fez: eu, o Nuno TDi e o Mário Simas, os 3 estarolas, aka Cocó, Ranheta e Facada, pedalámos alegremente na escuridão e fresquinho da madrugada sintrense... pelo menos durante os primeiros 15kms, após os quais o Mário furou o seu belo tubular com um pequeno vidro, estrategicamente à porta de um café, que até já estava aberto!
Ora vamos lá ver como se sai desta: 1 tubo de líquido Tufo sai magicamente do bolso; 1 pinchavelho para desapertar a carrapeta da válvula; líquido lá para dentro, virar a roda para o líquido ficar no sítio do furo; esperar um pouco... encher... sai um cartucho de Co2 do bolso.... Alto!!! O carro vassoura vai a passar! E de lá sai magicamente uma bela de uma bomba grande!
E Voilà! Prontinho a andar, em cerca de 15minutos... Como solucionar um furo num tubular em uma lição!!! :-)
Assim, fomos os últimos durante bastante tempo, a carrinha vassoura a uma distância confortável, e sempre com o piso molhado, a chamada "chuva do chão", e a chuviscar simultaneamente. Na zona do Porto Alto começámos a apanhar alguns participantes, um bocado antes da paragem aí montada para o abastecimento (PA), cerca do km 60. Mas que belo abastecimento: bolinhos secos maravilhosos, bananas, sumos, arroz doce, Gold Drink... já dava era vontade de almoçar!
O almoço, esse - depois de termos encontrado um bom andamento e apanhando diversos grupos que fomos levando atrás - seria nas Bifanas de Vendas Novas, ao km 110, sensivelmente. Que quentinho que estava lá dentro! E que friozinho sentimos ao sair! Estivemos demasiado tempo no conforto, as bifanas grelhadas demoraram uma eternidade, e com a agravante de ter começado a chover bastante um pouco antes de sairmos... Mas foram só os primeiros kms que custaram. E o efeito do excelente spray de aquecimento Star Balm a fazer maravilhas! Depois foi sempre a dar-lhe até Arraiolos, onde havia uma boa subida, no alto da qual tínhamos o 2º PA mais ou menos ao km 163, este já montado debaixo de um guarda-sol, porque entretanto a chuva foi-se e o sol veio secar-nos a roupa e aquecer-nos os pés! Mais uma série de bolinhos, café bebido no restaurante em frente, onde ficámos a olhar para a bela Sopa da Panela que estavam lá a comer, e siga para o último pedaço do percurso até à Terrugem.
A partir daí as bicicletas ganharam novo alento, os bolinhos e o café foram a injecção de que necessitávamos para percorrer o último quarto do percurso, agora com mais descidas e planos reais, por comparação com os falsos planos que apanhámos entre Vendas Novas e Arraiolos.
Foi um tirinho até à Terrugem. Alguns já tinham chegado, outros ainda faltavam chegar. Bebida de recuperação, mais bolinhos, bananas, e um bom banho quente seguido de... uma excelente massagem! Sim, leram bem, MASSAGEM, oferecida pela organização, para além de tudo o resto! E que bem que nos fez!
Enquanto isso, preparava-se o jantar, que constava de um prato regional: Cozido de Grão até fartar, acompanhado de um excelente tinto alentejano, queijinho seco de ovelha e linguiça assada, e ainda antes e depois da refeição, ouviram-se cantares alentejanos pelo grupo Voz Amiga, da qual fazia parte a Presidente da Junta da Terrugem de Elvas... No fim, o autocarro da Câmara de Sintra haveria de nos trazer de regresso à Terrugem de origem, tudo por conta do BTT Terrugem.
Bem perante este cenário que vocês todos estão a imaginar e a degustar mentalmente, eu pergunto: quem quer ir a maratonas?? Ou quem é que só se contenta em andar à porta de casa para não gastar dinheiro ou por falta de imaginação?? É que com tão pouco se faz muito! Com uma ideia simples, fez-se um dia maravilhosamente passado em cima da bicicleta; formou-se um grupo bem dinâmico e variado; juntaram-se pessoas que de outra forma não se juntariam, unidas pela paixão comum da bicicleta; proporcionou-se um grande convívio entre todos; deu-se a conhecer cantares da região, pratos da região, vinhos da região, que também podíamos comprar caso quiséssemos; animou-se uma localidade com um grupo de "extra-terrestres" vindos de uma Terrugem qualquer em veículos estranhos...
Enfim, não há muito mais a dizer... Quem ler vai ficar com pena de não ter ido, especialmente tendo em conta o valor da contribuição tão comedida que se pediu aos participantes por tudo isto, que eu considero um verdadeiro luxo e de fazer corar de vergonha muitas supostas boas organizações de maratonas e afins...
O que está a dar não é ser low cost; o que está a dar é ser razoável, ter gosto naquilo que se faz e se proporciona a outros que, como os organizadores, gostam de pedalar e de bem viver; o que está a dar não é cobrar para competir, mas sim cobrar para cobrir custos e proporcionar momentos bem passados a todos, que podem acelerar à vontade caso queiram, mas não sacrificando toda uma organização em prol dos "foguetes" que passam disparados e nem podem dar uma trinca num bolo nem olhar para a paisagem! Mas desengane-se quem pense que andámos a pastar: 222kms à média de 31km/h e com 1700mts de desnível acumulado... Nem sempre os 1ºs a chegar são os que andam mais depressa!
Com isto não se pretende de maneira nenhuma apontar o dedo às competições (eu adoro competir!!!), mas sim não se fazer tudo só para quem compete na frente. Outro caso de sucesso foi o Geo-Tour, e outro, embora de forma diferente, foi o Algarve Bike Challenge. Cada um à sua maneira não matou logo a prova e/ou passeio, proporcionando momentos de igual relevância aos da frente e aos de trás.
Dito isto, os meus mais sinceros Parabéns ao BTT Terrugem, pela ideia e savoir faire! E os meus agradecimentos a quem me deu a roda, a quem me ajudou e não me largou, os parceiros do trio: Nuno TDi e M. Simas. Vocês são um show! Bem hajam com a v/ boa disposição sempre!
E a 2ª Edição, quando é?? ;-)