quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Ironman Maiorca 2021 - This is it!

"Não tenha pressa e não perca tempo. Sempre chegamos ao sítio onde nos esperam." (José Saramago) E eu cheguei! Após mais de 10 anos, cheguei: qualifiquei-me para a final do Ironman que acontece todos os anos por alturas de Outubro (com excepção dos anos pandémicos..) na Big Island do Havai, especificamente Kailua-Kona. Subi mais um "8.000", a minha 9ª "montanha". Escalei (ou seja, nadei 3.800mts, pedalei 180kms e corri 42.2kms), perseverei, sofri mas desfrutei o tempo todo, sem isso nada faz sentido.
Tinha a fasquia bastante alta: ganhar o meu escalão, e assim garantir a minha "slot", ou seja o direito à vaga que me levaria à final do Havai. Não ganhei, estive o dia todo em 2º, estive muito perto da 1ª em várias ocasiões.. Mas em prova já sabia por volta do km 16/17 da maratona que não iria ganhar, e por consequência a vaga parecia perdida. Mas ainda assim continuei a dar o meu melhor, continuei a lutar, mesmo sabendo que em princípio isso não me levaria a lado nenhum. Digo em princípio porque há sempre uma hipótese de a 1ª classificada recusar a vaga por qualquer motivo. Mas não pensei em nada disso. Simplesmente só pensei que queria continuar a dar o melhor que eu tivesse para dar naquele dia e naquela hora. Nunca baixei os braços nem atirei a toalha ao chão. Não caminhei, não desmoralizei, corri sempre, à velocidade que pude, não olhei para trás; só olhei para a frente. Sofri, estive em lugares longínquos e escuros (há sempre - sempre - lugares desses numa prova destas), mas de todos saí de ombros erguidos, e sempre vi o sol, claridade, luz, céu azul, sorrisos e alegria.
Cruzei a meta satisfeita, feliz com a prova que fiz, em que dei tudo o que tinha para dar, e portanto nada havia a lamentar. Simplesmente a 1ª classificada foi melhor que eu. Ponto. Em paz com tudo o que fiz. Em paz com os 324 dias de treino, a maioria deles à média de 2 (ou mais) treinos por dia. Em paz com todo o processo, a preparação, mesmo que 3 dias antes da prova tenha tido uma dor lombar tão aguda e intensa que nem sabia como ia fazer a prova, quanto mais ganhar uma slot!!!! Combati a situação da lombar como pude, com a ajuda via telefone de vários amigos entendidos no assunto, com idas sucessivas à farmácia (que pesadelo, as farmácias em Espanha!!) e com muita precaução e fé de que tudo iria resolver-se. E assim foi: no dia da prova, após os 3 dias de tratamentos, eu estava a 95%. Nada do que se passou em prova foi condicionado pelo problema lombar. Portanto, feliz! Siga! No dia seguinte, houve cerimónia de entrega de prémios. Como fui a 2ª classificada do meu escalão, fui ao pódio. E eis senão quando, a 1ª classificada, uma suíça que corre como uma lebre, vira-se para mim e diz-me que já está qualificada e que não vai usar a slot, que iria haver "roll down" (processo pelo qual é conhecido a sucessiva atribuição de vagas a quem não as quer/precisa) e que claro que isso segue a ordem da classificação.
Eu não queria acreditar no que estava a ouvir! É claro que eu sabia que havia essa possibilidade, mas nunca quis acreditar nela, não me queria agarrar a uma esperança e depois ficar desapontada. Para mim, eu não tinha a slot, ponto. Mas quando ela me diz aquilo, foi uma sensação que não foi só de alegria, mas sim um sentimento de que todo o meu esforço e perseverança tinham sido compensados! Não desistir de dar o meu melhor até ao fim, mesmo quando parecia que ia falhar o objectivo, foi compensado desta maneira! Não, não foi sorte, e nem foi uma conquista sem glória. Eu fiz por merecer a slot, fiz a mesma prova que a 1ª classificada, sofri o mesmo ou mais, treinei se calhar ainda mais, portanto esta slot é minha de direito, e só eu sei o trabalho que deu ter esta "sorte"! E a sorte protege os Audazes...
Este foi só o "Prólogo" para aquilo que me espera: mais 1 ano de trabalho rumo ao Ironman World Championship em Outubro de 2022, na Big Island. Vou pela 2ª vez ao Havai (a final do Xterra onde fui em 2014, foi na ilha de Maui), e Kailua-Kona nada tem a ver com Maui, nem em termos paisagísticos nem no grau de dificuldade de uma prova assim: Kona é uma ilha inóspita, varrida por ventos fortes, uma humidade incrível e um percurso de ciclismo e corrida que não tem fim. E é por isso que a final do Ironman é lá, porque é a mais difícil, e porque foi lá que tudo começou, em 1978! E farei o meu 10º Ironman exactamente no lugar mítico e na prova mítica - o World Championship!
Até lá, tenho muito trabalhinho pela frente, muitos meses, semanas e dias de dedicação, de fadiga acumulada, de carga física e anímica, mas sempre movida por uma coisa: PAIXÃO! Sem ela, isto não é prazer, é sacrifício. E sacrifícios eu não faço; faço escolhas e estabeleço prioridades, as MINHAS prioridades. Agora é tempo de recuperar, regenerar, descansar e fazer umas coisas de que gosto, sem grandes chatices ou expectativas. “O trabalho duro ganha do talento, quando o talento não trabalha duro.” (Kevin Duran)