“Gaivota que se preza tem de sentir as estrelas, analisar paraísos, conquistar múltiplos espaços. Gaivota que se preza precisa buscar perfeição. Importante é olhar de frente, em uma, em dez, cem mil vidas. Para Fernão nada é limite: voa, treina, aprende, paira sobre o comum do viver. Se o destino é o infinito, o caminho é nas alturas!”
(in "Fernão Capelo Gaivota", Richard Bach)
Caminhar nas alturas foi o que ambicionei ao lançar-me, na companhia de inestimáveis amigos, no sonho de cumprir o mítico Ironman de Roth.
O sonho tornou-se realidade no passado dia 10 de Julho, em 12:15 de sangue, suor e lágrimas, num esforço físico e psicológico permanente, mas que o sonho empurrava para a frente, um km de cada vez…
O ambiente de Roth só é perceptível para quem já lá foi: descrever a emoção de nadar, pedalar e correr rodeada de centenas, e finalmente milhares, de adeptos fervorosos, é tarefa impossível.
Como explicar que a pacata vila de Roth, 25 kms a sul de Nuremberga, vive
de e
para este evento anual, que se realiza há cerca de 20 anos, há 10 no figurino actual? Como entender que as gentes de Roth e arredores se levantam de madrugada para estarem nas pontes e margens do Rothsee, o imenso canal onde se realiza a natação, e que se inicia às 06h30 da manhã? Como transmitir a sensação inebriante de ouvir chamar o nosso nome em terra estrangeira porque ele figura no nosso dorsal e os adeptos nos tratam como família e heróis? E finalmente, como descrever, no meio do suor, as lágrimas que surgem no canto do olho numa subida de 15% onde só uma bicicleta de cada vez passa devido aos mares de gente que se acumulam na estrada para apoiar os atletas?
Impossível não é? Bem me parecia…
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Impossível é não nos emocionarmos nesta atmosfera que inebria, estimula e incentiva; que nos faz esquecer as imensas horas de treino, à chuva e ao vento, ao sol e até pela noite dentro; os dissabores de tanta dedicação e empenho muitas vezes incompreendidos e mal interpretados, que não são doença ou obsessão; são antes rigor e trabalho árduo, únicos valores que conduzem ao sucesso, e que são o apanágio do conceito “Ironman”, pelo menos para mim.
Mas as dificuldades já passaram todas, as do antes e as do durante. Agora resta o depois, com todas as boas recordações e lições que constituem uma experiência como esta. Não mais esquecerei a amizade e solidariedade dos meus companheiros de Iron, participantes ou não, previstos ou imprevistos, bem como a hospitalidade do casal Winkler que nos alojou na sua quinta na povoação de Meckenlohe, a 4km de Roth.
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Não sou estreante na distância Ironman. Mas fui estreante num evento desta envergadura, com cerca de 3500 atletas à partida. Foram batidos os recordes do mundo na distância, tanto femininos como masculinos. Assinalaram-se os 10 anos da prova, com todo o tipo de acontecimentos: pasta party, helpers party, um enorme fogo de artifício como num reveillon… E em que outra prova do mundo é que a campeã do mundo em título coloca a medalha de Finisher ao pescoço de um vulgar participante? A Chrissie Wellington fá-lo, nesta prova onde vence há 3 anos consecutivos e onde já bateu 2 recordes do mundo de Ironman.
Por tudo isto e por muito mais, o Challenge Roth é a prova que qualquer aspirante a Ironman tem de fazer uma vez na vida. Porque “Vê mais longe a gaivota que voa mais alto”.
A todos, sem excepção, que me apoiaram, com uma simples palavra ou gesto, mesmo que não na altura, o meu grande BEM HAJAM!