A minha participação na edição de 2025 do Ironman World Championship na “Big Island of Hawaii”, foi a minha primeira e única num Mundial exclusivamente feminino, já que a participação anterior, em 2022, foi a última vez que homens e mulheres correram juntos na ilha, embora separados em 2 dias diferentes. De igual modo, 2025 foi o último ano em que houve separação de géneros, voltando ao formato de uma só prova conjunta novamente em 2026, como sempre foi, e no mesmo dia.
O que pude constatar é
que a ilha estava muito menos lotada, o que conferia maior calma e
tranquilidade tanto aos atletas e acompanhantes, como à comunidade local. O
reverso da medalha, porém, é que se notava bastante a falta de público e apoio em
locais míticos que anteriormente costumavam estar a abarrotar de gente e que
agora estavam tristemente quase desertos, como a Ali’i Drive e o Energy Lab.
O dia D amanheceu chuvoso, o que indiciava que a humidade, aliada ao calor do dia, iria estar exponencialmente elevada, o que veio a confirmar-se.
A natação registou uma temperatura da água a rondar os 28 graus, mas as condições estavam bastante agitadas, embora tal não afastasse os golfinhos que avistámos durante o segmento.
Sendo o ciclismo o meu segmento mais forte, saí a boa média e a ultrapassar muita gente, embora ciente que esse ímpeto inicial tem de ser controlado pois mais para a frente é que estão as verdadeiras dificuldades. Essas passaram em grande medida pela humidade extrema que se começou a sentir devido ao alcatrão ainda algo molhado e quente estar a irradiar um “bafo” indisfarçável, que aliado ao sol cada vez mais alto, começou a fazer estragos evidentes em toda a gente. Fui passando muitas atletas até à aproximação à subida de Hawi, onde me cruzei, no sentido contrário, com a cabeça da corrida, pela ordem Taylor e Lucy a escassos metros, e bastante tempo depois a norueguesa Solveig. Para trás estavam as restantes muito mais atrasadas.
Pouco após a descida,
entramos no longo troço de regresso na Queen K, e a inclemência das condições
climatéricas produz desgaste cada vez mais evidente. Há que apanhar água em
todas as “aid stations” e molhar a cabeça e o corpo para arrefecer o mais
possível. É um constante sobe e desce com vento lateral vindo do mar, à nossa
direita, que fustiga incessantemente até voltarmos a entrar no PT em Kailua.
Cheguei exatamente na marca das 06:00, paciência, acelerar para pagar (ainda
mais) a fatura na corrida estava fora de questão. Transição um pouco mais
demorada do que a 1ª para colocar meias, dorsal com abastecimentos, enquanto os
incansáveis voluntários nos pulverizam com protetor solar e toalhas frescas no
pescoço. Para quem não sabe como são os voluntários do IM World Championship, é
isto e muito mais!
Os primeiros passos da
corrida são sempre penosos, porque sai-se do PT e sobe-se logo um pedaço (uns
80mts) até entrarmos à direita na Kuakini Road, e depois na Ali’i Drive. A
Ali’i Drive também é um constante sobe e desce, aliás não há 1 metro plano
nesta prova, em nenhum segmento, é sempre um suave ondulado que vai causando um
desgaste como uma pedra de moer. São cerca de 6kms ir e voltar (portanto 12),
até levarmos com a subida da Palani, essa uma autêntica rampa, e depois
virarmos à esquerda para a Queen-K. Se já a Ali’i Drive massacrou com o seu
ondulado, a Queen-K que começa sorrateiramente a descer, vai ser progressiva e
maioritariamente a subir até à curva para o infame Energy Lab.
A descida da Palani é
como uma marreta nas pernas devido ao impacto, mas é também o aproximar do
final, é um ânimo que renasce, mas ainda pode acontecer alguma coisa, como
aliás sabemos que aconteceu muito antes à Lucy, e depois à Taylor, tão próxima
do fim. Eu já só penso naquele corredor de meta, na alegria que quero voltar a
sentir quando o percorrer, ladeado por bandeiras de todos os países
representados, e naquele tapete vermelho e no topo onde culminam os 42.2kms,
que eu cruzo passadas 12:06:34.
Foi preciso muito HOʻOIKAIKA (lema desta edição da prova, significa RESILIÊNCIA) e muita disciplina, muito foco e dedicação, muita capacidade de sacrifício e entrega durante 12 meses para fazer 12h06 de prova. Parece “fácil” … mas não é!
“See you next time Kailua-Kona, Mahalo”!






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